Em empresas que desejam crescer com sustentabilidade, a presença da área técnica nas decisões do board deixou de ser uma exceção — virou pré-requisito. Mas, para isso acontecer de verdade (e não apenas no papel), é preciso estrutura, preparação e postura.
Conversamos com Robson Gimenes Pontes, especialista em planejamento corporativo e estruturação financeira, sobre como o setor técnico pode — e deve — se posicionar como ator ativo nas decisões estratégicas.
O setor técnico muitas vezes atua bem internamente, mas não tem voz no conselho. O que falta?
Na maioria dos casos, não falta competência técnica — falta tradução estratégica. Muitos profissionais dominam os números, mas ainda não estão habituados a apresentá-los de forma que dialogue com a linguagem do conselho. É preciso transformar os dados em cenários, e os riscos em argumentos que contribuam com a tomada de decisão. Isso se aprende com método e exposição.
Qual o primeiro passo para preparar o setor técnico para participar do board?
Documentação clara e indicadores consistentes. O conselho precisa confiar na fonte antes de confiar na análise. Ter processos bem definidos, KPIs transparentes e capacidade de resposta rápida a demandas da alta gestão é o ponto de partida.
Existe um perfil ideal de profissional técnico para interagir com o conselho?
Sim, e ele combina três atributos: raciocínio analítico, comunicação assertiva e maturidade emocional. Não adianta só saber onde estão os números — é preciso saber o que eles significam no contexto da estratégia da empresa. Além disso, esse profissional precisa ter calma para sustentar posicionamentos, mesmo quando contrariam a maioria.
E a liderança técnica? O que ela precisa desenvolver para apoiar essa ponte?
A liderança precisa atuar como filtro e como tradutor. Filtro, no sentido de garantir que o conselho receba o que é relevante. E tradutor, no sentido de explicar o racional das análises de forma acessível, sem jargões. É esse líder que prepara o setor financeiro para ser ouvido — e respeitado.
O que muda quando o setor técnico tem voz ativa no conselho?
A qualidade das decisões melhora. O board passa a enxergar limites com clareza, avaliar riscos com precisão e pensar crescimento com base real. Quando o técnico está presente, o conselho sai do achismo e entra na execução possível.
Autor : Aleksander Araújo