Uma pesquisa apresentada no Festival 3i, no Rio de Janeiro, revelou que o mercado de influenciadores digitais no Brasil é altamente fragmentado. O estudo analisou por que jovens seguem determinados perfis nas redes sociais e como esses criadores de conteúdo influenciam opiniões — inclusive políticas.
Foram aplicados 100 questionários no Brasil, nos quais os participantes citaram espontaneamente os influenciadores que acompanham. Ao todo, surgiram 701 nomes diferentes. Destes, 72,6% foram mencionados apenas uma vez, enquanto somente 3,7% receberam cinco ou mais citações, evidenciando a grande dispersão do mercado.
A cientista política Camila Rocha, do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), explicou que essa fragmentação também aparece em outros países da América Latina. O estudo incluiu ainda jovens do México, Chile, Colômbia e Argentina, totalizando 350 participantes entre 16 e 24 anos. Além dos questionários, foram realizadas entrevistas com influenciadores e grupos focais com cerca de 90 pessoas.
No Brasil, os influenciadores mais lembrados foram Virgínia Fonseca, que liderou as menções, seguida por Carlinhos Maia, Rayssa Buq, Neymar, Mirella Santos, Mel Maia, Felipe Neto, Whindersson Nunes, Vanessa Lopes e Mari Maria.
A pesquisa mostrou também que mais da metade dos jovens seguem influenciadores com posicionamento político. Apesar disso, cerca de 40% preferem discutir política pessoalmente, e não nas redes sociais. Os participantes afirmaram ser mais receptivos a conteúdos políticos que surgem de forma “casual” no feed, e não como publicações planejadas ou militantes.
Entre os 85 influenciadores mais citados espontaneamente, apenas dois são figuras políticas: Jair Bolsonaro e Nikolas Ferreira. Porém, quando questionados diretamente, 42% dos jovens disseram acompanhar conteúdos de Lula, e 30% afirmaram seguir conteúdos de Bolsonaro.
Outra parte do estudo, conduzida pelo Aláfia Lab, analisou manifestações de racismo direcionadas a 26 personalidades negras, como Lázaro Ramos, Djamila Ribeiro e Nath Finanças. Foram identificadas quatro estratégias recorrentes nesses ataques: desumanização, desqualificação, invisibilização e desinformação. A pesquisadora Nina Santos, diretora do laboratório, destacou que o volume de ataques cresce quando publicações alcançam públicos fora da “bolha” de seguidores habituais. Ela também alertou para estratégias usadas por agressores para burlar a moderação das plataformas, como substituir letras por números em palavras ofensivas.
Autor: Aleksander Araújo