O número de influenciadores digitais nas redes sociais cresce em ritmo acelerado e já representa um desafio significativo para o jornalismo e para outros setores, como a política, a economia, a justiça e a educação. O que há pouco mais de cinco anos parecia apenas uma atividade de jovens em busca de visibilidade tornou-se um mercado bilionário capaz de transformar a forma como a informação circula no ambiente digital.
Em 2018, estimava-se a existência de cerca de 100 milhões de influenciadores em todo o mundo. Atualmente, esse número chegou a aproximadamente 1,5 bilhão de pessoas que utilizam a internet como espaço para ganhar projeção ou dinheiro por meio da influência. Entre 2019 e 2024, o mercado de marketing de influência mais que triplicou, passando de US$ 6,5 bilhões para uma projeção de US$ 24 bilhões em 2024 — um crescimento que demonstra a força e a profissionalização desse setor.
No Brasil, o fenômeno é ainda mais expressivo: são cerca de 5,4 milhões de influenciadores ativos, número superior ao registrado em países como Estados Unidos e Índia. Grande parte desses criadores de conteúdo é composta por jovens que veem nas plataformas digitais uma oportunidade de trabalho, muitas vezes sem formação formal e com baixo custo de entrada.
Um dos exemplos citados no estudo do fenômeno é o influenciador Enaldinho, que reúne dezenas de milhões de seguidores e chega a faturar, em média, R$ 1,5 milhão por mês por meio de monetização nas plataformas e contratos de patrocínio. Casos como esse mostram como a influência deixou de ser apenas entretenimento e se tornou uma profissão estruturada, com forte impacto na economia digital.
A atuação dos influenciadores, no entanto, não se limita ao conteúdo leve. Muitos criadores têm motivações políticas, sociais ou ideológicas, fazendo circular opiniões, análises e informações que influenciam diretamente a formação de opinião pública. Esse volume de conteúdos ultrapassa, em quantidade, o que é produzido pela imprensa tradicional — e, em muitos casos, reflete interesses pessoais dos próprios influenciadores.
Entre estudantes brasileiros, o impacto também é percebido. Uma pesquisa mostrou que 75% desejam seguir carreira como influenciadores digitais; 64% afirmaram querer isso para ganhar dinheiro, e metade declarou que deixaria a escola para se dedicar exclusivamente à criação de conteúdo. Esses dados mostram a força simbólica e aspiracional desse mercado entre os jovens.
Diante dessa mudança no ecossistema informativo, o jornalismo perde espaço na disputa pela atenção do público. O jornalista, então, passa a enfrentar um dilema: competir diretamente com influenciadores ou assumir um novo papel na mediação das informações.
A análise aponta que o caminho mais promissor é o do jornalista como curador de notícias — alguém capaz de ajudar o público a navegar no excesso de informações, filtrando conteúdos confiáveis, contextualizando fatos e oferecendo referências baseadas em critérios profissionais. Para isso, o jornalismo precisa repensar seus valores, práticas e posicionamentos no ambiente digital, buscando manter sua relevância em um cenário de profunda transformação.
Autor: Aleksander Araújo